Um caminho, um meio, um fim… o começo de tudo

caminho-meio-fimRelendo o dia de ontem, fortaleço a certeza de que é hora de assumir que nem sempre faço as coisas que meu coração pede. Consequência, talvez, de levar a sério demais o meu ego e me apegar aos compromissos com os outros. Resultado da incapacidade de ser tão somente o que sou e não aquilo que acho que os outros esperam de mim. Muitos “talvez”; muitas conjecturas.

Entre elas, entretanto, uma possível saída: talvez os acontecimentos que estão marcando este retiro sejam propícios para eu me libertar do peso e me tornar uma pessoa mais livre para errar, para mudar o curso das coisas no meio do caminho, para simplesmente fazer as besteiras que os outros julgam “errado”, sem que isto se volte negativamente contra mim. Posso, enfim, aprender com um “vôo solo”.

Decididamente, o coiote está certo: é preciso ser mais irreverente!!

Antes de sair para o retiro, havia consultado as cartas xamânicas e, além do “Heyokah”, a simbologia do “cara pintada” tinha aparecido como conteúdo importante. Ela fala sobre a livre expressão do ser, que não deve esconder sentimentos, pensamentos e que deve passar a viver suas próprias verdades, de maneira simples e com humildade. Sugere que, ao assumir a própria natureza, devemos oferecer isto para o mundo ao nosso redor, já que esta transformação pode ser curadora para si mesmo e para aqueles com quem nos encontramos pelo caminho.

Associando as duas cartas, percebo que além de encontrar algo que pudesse concretamente mudar o meu caminho, dei de topa com situações em que fui convidada a me confrontar com as minhas verdades, minha maneira de ver o mundo, minhas dificuldades e fraquezas, meus medos, minha seriedade. É como se tudo isto estivesse me dizendo: e então, você vai ou não tomar uma atitude e mostrar força para transformar a própria vida?!

Os fatos do dia poderiam ser contados em vários atos. Verdadeira cena de filme tragicômico. Mas, nada do que ocorreu tem tanto valor quanto as reflexões e a série sucessiva de decisões originadas, a partir dos incidentes vividos. Pequenas mudanças logísticas e grandes transtornos em decorrência. Grandes transtornos e abertura de consciência… aquela tão desejada coragem começou a entrar pelos poros e foi contaminando todo o meu ser. Este foi apenas o início da minha libertação!

Novamente recorro às cartas xamânicas para refletir sobre os fatos, a partir de outro ângulo. Na primeira carta, “o lugar de poder”, a confirmação de que aquele local é capaz de ajudar a nos tornarmos catalisadores, cabendo apenas direcionar nossos talentos para alcançar certos resultados. Na segunda, a “cerimônia do peiote”, fica claro que é necessário tomar consciência do próprio espírito imortal e encontrar abertura no universo para adquirir novos talentos; reforça que é fundamental afastar qualquer sentimento negativo e desenvolver novas habilidades.

“O bastão que fala” foi a terceira carta, alertando que a estagnação na própria meta impede o movimento de crescer e não conseguimos vislumbrar a luz no fim do túnel, que nós mesmos criamos. Devemos nos abrir para novas experiências, novos caminhos, novos jeitos de ser e de fazer, considerando os sinais que vêm de fora. Temos que escutar mais estes sinais e colocá-los em prática. Uma quarta carta, a “dimensão dos sonhos”, reforçou que é essencial ver as coisas com a visão ilimitada, prestando atenção nas mensagens paralelas que o universo nos envia. E, a quinta e última carta, a “cerimônia da doação” falava sobre a liberação que nos chega, quando nos desapegamos dos bens materiais e não nos deixamos prender pelo passado.

No conjunto, todas as cartas convergiam seus significados para a certeza de que o momento era propício para transformar. Sair daquele espaço mágico do deserto foi, ao mesmo tempo, morrer e viver. Mas, sem dúvida, foi descobrir e revelar; fortalecer e crescer; assumir e sumir; encontrar o Ser e simplesmente Ser.

Desde a saída do retiro não parava de pensar nos acontecimentos que se sucederam, nas cartas, nas pessoas que surgiram ao longo do caminho, nas cartas, nos sinais do cosmo, nas cartas, nas possíveis lições, nas cartas… em meio aos pensamentos e à interação com a realidade daquele momento, repetia dentro de mim uma oração de agradecimento por tudo e me deixava ser tomada, completamente, pelo vírus da coragem. Agora já era fato: estava dominada pela ideia de dar o próximo passo para a liberdade!

Após cozinhar algumas horas nas piscinas térmicas e elevar a temperatura do ambiente emocional, entrei em profunda meditação. Os sinais Divinos têm me pressionado para tomar uma atitude e o melhor a ser feito é obedecer a intuição. Revi todos os acontecimentos, as mensagens, as intenções que tive ao fazer este retiro. Confrontei tudo isto com os meus medos, pudores e fantasmas e conclui que seguirei, sim, um novo plano de voo solo.

De fato, é hora de assumir minha natureza, mesmo sendo imperfeita, para viver minhas verdades sobre as próprias pernas, mesmo sendo relativas e provisórias. Desmistificar a busca da iluminação foi o primeiro passo para conquistar o horizonte. Voltar para casa será o segundo.

A base de tudo isto é, finalmente: ter perdido o medo do julgamento do outro, admitindo que erro sim e que falho com as pessoas e seus processos; reconhecer minha humanidade nada especial; perceber que a luz não está na perfeição do coração compassivo e que para atingir um estado evolutivo “melhor”, é necessário  conviver com as próprias fraquezas, tenham elas sido superadas ou não, afinal, fazem parte de nós.

Portanto, me parece que voltar para casa num novo plano é o antídoto certo para a minha falta de auto confiança e para a minha pretensão de ser “certinha”. Sinto a presença do Divino neste momento de ruptura. Sinto que estou rompendo com a necessidade de sobrevivência do ego e com a cobrança do superego. Por outro lado, também me sinto exposta e frágil, além de um tanto assustada com a dimensão e impacto que este retiro está provocando dentro de mim.

No momento, no aqui-e-agora da minha existência, esta ruptura e rompimento que envolvem, também, outras pessoas, estão representando o remédio amargo e necessário. E rezo para que não se transformem em veneno contra o mundo ao meu redor, mas se fortaleçam como bálsamo para a libertação da alma.

Sei muito bem, sei lá dentro de mim, que a vida não será mais a mesma. De novo, este é apenas o começo do fim de tudo.

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