
Este texto foi originalmente publicado pela Editora Eureka (http://editoraeureka.com.br/midia/a_borboletinha_iaia.pdf), onde sou colunista. Não deixem de visitar o site (www.editoraeureka.com.br) e seguir também o Instagram no @eurekadigitalapp
Por mais complexo que seja viver neste mundo em quarentena, temos que concordar unanimemente que mergulhamos em um universo de oportunidades e estamos aprendendo alguma coisa nova. Ainda que não seja novidade para alguns. São tantas inovações e jeitos de lidar com as mais variadas situações do cotidiano que começou a ficar ainda mais difícil de acompanhar as mudanças que já estão ocorrendo em todas as áreas.
O “novo normal” está em curso. Bem-vindos ao amanhã! E nada de nostalgia. Evolução é assim mesmo: abraçamos outras formas de fazer as coisas e investimos nelas a energia necessária para que possamos promover o bem estar no mundo. Isto é muito positivo e, embora toque sutilmente ou abruptamente os nossos medos, não representa nenhuma ameaça para os nossos valores essenciais. Ao contrário, aquilo que nos é realmente importante continua conosco e os momentos de crise servem para nos transportarem de um patamar para outro, sem excesso de bagagem. O que antes nos transbordava deixa de afogar a rotina e passamos a enxergar melhor a natureza da nossa alma.
Graças à mudança de perspectiva sobre a vida e o viver em sociedade, podemos abrir portas nunca antes imaginadas e fazer a travessia para o horizonte de possibilidades com mais leveza. Afinal, sair voando por aí é uma das tarefas mais belas e promissoras que compartilhamos coletivamente. Mas, claro, cada pessoa a realiza do seu modo e com um ritmo particular. E está tudo bem. Somos diferentes nessa unidade.
Recentemente, recebi a imagem de um garotinho enrolado no edredom, parecendo um grande casulo, justamente quando refletia sobre essa história do ritmo e do jeito de cada pessoa e me diverti com o simbolismo da foto. No final de contas, somos todos lagartas, desenvolvendo asas para explorar o mundo em algum momento. Somos gestados no aconchego de um ser e embalados cuidadosamente pelo afeto da família para ganharmos autonomia e liberdade. Esse é o destino de todos nós: a metamorfose das borboletas.
E para completar o ciclo de ideias, pensava sobre o papel da família na tarefa de cuidar do casulo quando alguém surgiu com o termo “mãe-helicóptero”. Logo conclui: sim, também podemos substituir “mãe” por “pai” porque o ponto central é outro. Foi a primeira vez que me deparei com essa terminologia. Entretanto, seu significado é um velho conhecido e traduz o comportamento de pais que ficam sobrevoando a vida dos filhos de tal maneira que eles não conseguem dar um passo sequer em direção à sua autonomia emocional e, muitas vezes, inclusive material.
Talvez, por excesso de zelo, mas pode ser também um mecanismo inconsciente para manter o controle absoluto sobre o vir-a-ser daquela criança ou uma estratégia para traçar seu plano de voo, de acordo com o que a família considera mais compatível com suas expectativas. Obviamente, muitas outras hipóteses podem ser levantadas, mas o que importa reafirmar aqui é o impacto que temos sobre a formação das nossas crianças, sejamos helicópteros ou não. O tipo de relação que mantemos com elas é determinante no seu processo de amadurecimento.
Existem teorias e pesquisas que demonstram tanto a influência genética quanto a social na personalidade da criança e não há dúvidas sobre como o estilo da família se reflete no comportamento dos filhos. A questão então é: que tipo de cuidadores podemos ser? Casulos rompidos à fórceps (e aqui não estou falando de nenhum tipo específico de parto!), pode causar o afastamento precoce de crianças despreparadas para voar. A lagarta morre antes de conquistar suas asas. E casulos superprotegidos geram lagartas secas de autoconfiança. O desafio do termo equilibrado é recorrente.
Seguimos hibernando em um longo período de distanciamento social e fico me perguntando que espécie de borboleta estará passeando no mundo depois dessa crise. Lógico, meu desejo é de que nós, pais, possamos aproveitar esse momento crucial para estabelecermos com nossos filhos uma relação de afeto libertadora. Daquelas em que todas as partes reconhecem e concordam que ninguém deve nada para ninguém e que amor e gratidão são valores base para um contrato familiar de reciprocidade.
Também é meu desejo de que nós, pais, deixemos o helicóptero guardado no hangar porque o tempo demanda, na realidade, sermos jardineiros. É hora de investirmos no jardim e plantarmos flores suficientemente perfumadas para a visita das borboletas que virão por aí. Tempo do diálogo amoroso, do abraço das palavras positivas e afetuosas, do carinho pelo tom de voz, do estímulo à autoconfiança, da qualidade da presença, do incentivo à liberdade responsável e solidária.
E já que a palavra de ordem, no momento, é nos despedirmos do “velho normal”, talvez seja de melhor tom concluirmos essa conversa lembrando daquela marchinha de carnaval que reforça o ponto central desse movimento natural é que educar para a vida, numa versão “novo normal”: “A Borboletinha, iaiá. A Borboletinha, ioiô. A Borboletinha bateu asas e voou.”
Possam elas conquistar a serenidade necessária para a construção desse novo mundo!
Publicação original: http://editoraeureka.com.br/midia/a_borboletinha_iaia.pdf
Instagram da Eureka: @eurekadigitalapp
Uma leitura que requer calma…pois o resultado é, inevitavelmente, uma BOA reflexão.
Posso destacar essa frase: “Tempo do diálogo amoroso, do abraço das palavras positivas e afetuosas, do carinho pelo tom de voz, do estímulo à autoconfiança, da qualidade da presença, do incentivo à liberdade responsável e solidária.”
Que este “novo normal” possa nos aproximar da nossa humanidade…porque estamos precisando!
Gratidão pelo texto, Andrea!
Estamos mesmo precisando de mais humanidade, Ricardo. Também fico na vibração pra gente conseguir se desenvolver nesse sentido. Abraço afetuoso! 💐
Que fofo! 💙
Aiezha, gratíssima. Visitei teu blog e fiquei encantada.
Deixo aqui o link pra quem quiser passear por suas linhas mágicas: https://meupropriolar.blog/
abraço afetuoso 🙂
Reciprocidade então, pq estou encantada com o seu! As vezes digito “escrita feminina”, saio buscando e encontro blogs bacanas assim… 🙏🏾
empoderamento feminino! é uma alegria encontrar aliadas 😉