O contraste das montanhas multicoloridas é incrível. Verde, vermelha, marrom, preta. Uma vastidão de pequenos morros compostos de uma infinidade de pedras que separam a estrada das cordilheiras. Mais se parecem com ondas de um mar em pleno deserto. Algumas ondas mais curtas, outras pontiagudas. No conjunto, oferecem uma paisagem árida, porém de intensa vibração.
O lugar é realmente mágico e contemplativo. Abaixo da cordilheira maior, mas ainda assim há quase 3.800 metros de altitude, faz o fôlego ficar mais curto e o coração quase salta da garganta. Tudo isto remediado, neste primeiro dia, por uma boa xícara de chá, enquanto o sol se deitava atrás do mar petrificado.
A noite foi surgindo e a lua timidamente se apresentando como companhia. Aos poucos novos integrantes foram compondo o cenário. As estrelas iam pipocando o céu, deixando uma sensação agradável de proximidade com o infinito.
Noite afora, frio adentro. Meu espírito volta rapidamente ao corpo, um pouco trêmulo. Um misto de adrenalina pela magia de estar ali com a baixa temperatura do ambiente. Fito o olhar no horizonte e me surpreendo com as Três Marias em pé, no topo da montanha maior. Tento acompanhar o espetáculo noturno, mas me rendo aos cochilos. Algumas horas depois, uma das Marias ficou completamente escondida atrás da montanha. Sucessivamente, as outras duas tiveram o mesmo destino, deixando para trás apenas a vastidão presente.
Tenho constatado como a nossa mente tende a criar realidades diferentes para poder dar conta de trilhar o próprio karma. Mas, mesmo aqueles que são bastante espiritualizados, sábios conhecedores das diversas dimensões da alma, podem se apegar a estas realidades não conseguindo, de fato, apreender o próprio karma e realizar seu dharma.
Neste caminho, como dizia um velho amigo, basta praticar o amor. Esta é a base da iluminação, da mudança de vibração, da ascensão da alma. Vejo que nossa rotina em “samsara” está permanentemente nos oferecendo a oportunidade para este exercício. Entretanto, nem sempre as reconhecemos porque mistificamos demais essa coisa de “iluminação”.